

30.08.2022
Animais mantidos pelo Centro de Conservação da Fauna Silvestre serão reintroduzidos na Reserva Ecológica de Guapiaçu (RJ). Extinta até 2017, espécie conta atualmente com apenas 12 exemplares em todo o Estado
Uma operação que envolveu mais de 20 profissionais e uma viagem de mais de mil quilômetros está ajudando na reintrodução de uma espécie que tem um papel ecológico fundamental para preservação das florestas – e que estava extinta no estado do Rio de Janeiro até 2017.
Em uma ação conjunta entre a CTG Brasil, Ecologic, Instituto de Ação Socioambiental, Refauna, Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), um casal de antas que viviam no Centro de Conservação da Fauna Silvestre (CCFS) de Ilha Solteira será reintroduzido na natureza, mais precisamente na REGUA, no Rio de Janeiro.
As antas viviam em Ilha Solteira desde 2011 e são as primeiras do plantel do CCFS reinseridas na natureza. O espaço possui ainda várias parcerias técnicas para a reintrodução de outras espécies ameaçadas de extinção, como os tamanduás-bandeira.
Antes de serem devolvidos à natureza, os animais passam por exames para verificar a presença de doenças específicas, recebem alimentação balanceada e são acompanhados por veterinários, biólogos e outros profissionais. Os tratamentos, quando necessários, incluem até ozonioterapia, técnica mais moderna no tratamento de ferimentos – a anta fêmea transportada de Ilha Solteira até a reserva ecológica no Rio, por exemplo, chegou como vítima de queimada e foi plenamente recuperada dentro do CCFS.
Todo o processo está autorizado pelos órgãos ambientais – neste caso, pelo Departamento de Fauna da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo (DeFau/SMA) e pelo Instituto Estadual do Ambiente, órgão ligado à Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro.
“Além de tudo isso, todos os animais que são preparados para reintrodução passam pelo estágio de semicativeiro, que auxilia na sua ambientação com o local de soltura”, explica Giulius Cesare, diretor da Ecologic, empresa responsável pela gestão dos animais do CCFS de Ilha Solteira.
As antas ficaram extintas no Rio de Janeiro de 1914 a 2017. Atualmente, existem apenas 12 antas em todo o estado. A espécie ainda é considerada extinta no Sul do Brasil, encontra-se ameaçada no Cerrado e tem as suas maiores populações no Pantanal e na Amazônia. No Rio de Janeiro, esse trabalho de restauração é feito pelo Refauna – ONG com foco na refaunação da Mata Atlântica – com a ajuda de parceiros como o Instituto ASA, que coordena o projeto ANTologia, a REGUA e o IFRJ.
Jardineiras da floresta
As antas vivem em florestas e têm um papel ecológico fundamental para a conservação e a renovação das matas. São conhecidas como “jardineiras da floresta”, por sua capacidade de promover dispersão de sementes das árvores e por se alimentarem da vegetação, impedindo que uma planta cresça demais e exclua outras espécies, por exemplo.
“E, por estarem entre os maiores mamíferos da fauna brasileira, as antas conseguem dispersar sementes que outras espécies não conseguem”, completa Maron Galliez, professor do Instituto Federal do Rio de Janeiro e coordenador do Refauna.
As duas antas transportadas para a reserva ecológica passarão por um período de aclimatação e depois serão acompanhadas por 12 meses, por meio de um colar de telemetria, entre outros meios de monitoramento. “O objetivo é verificar a capacidade de sobrevivência desses animais, onde eles estabelecem a área de vida e sua reprodução, ou seja, seu restabelecimento na natureza”, acrescenta Joana Macedo, coordenadora do projeto ANTologia.
Referência em manejo da fauna silvestre
Criado em 1979 para abrigar animais que tiveram habitat alagado pela formação do reservatório da Usina Hidrelétrica Ilha Solteira, o Centro de Conservação da Fauna Silvestre (CCFS) se tornou um centro de referência no manejo da fauna silvestre do Cerrado e da Mata Atlântica.
“Um dos principais objetivos do CCFS é apoiar e participar de projetos científicos objetivando a conservação de espécies ameaçadas de extinção. Quando esses animais apresentam condições físicas e sanitárias, estão aptos a entrar em projetos de reintrodução”, explica Simone Santos, especialista de meio ambiente da CTG Brasil, concessionária da Usina Hidrelétrica Ilha Solteira e responsável pela administração do CCFS desde 2020.
Atualmente, o CCFS de Ilha Solteira possui um plantel com cerca de 350 animais silvestres, pertencentes a mais de 50 espécies entre pássaros, répteis e mamíferos podendo ocorrer pequenas variações diárias dessas quantidades.